quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Entrevista com o professor Alexandre Dressler

Em entrevista para o blog da escola de teatro, o professor de preparação vocal, Alexandre Dressler, fala sobre a criação do Curso de teatro para Adolescentes da Fundação, de como o curso funcionava antigamente e conta várias curiosidades de quando era professor nesse curso. Faz ainda uma comparação entre os atores de ontem e os atores de hoje, fala sobre seu vício por cinema, sobre os últimos espetáculos que participou, sobre como anda sua vida hoje e muito mais. Confira a entrevistana íntegra...

Não sei se você sabe Dresler, mas a escola está com um projeto que é o Blog da Escola de Teatro. E um dos assuntos que o blog pretende tratar é a história da Fundação, dos cursos, das pessoas que passaram por aqui. Sabemos que além do curso profissionalizante, existe o curso de teatro para adolescentes aqui na escola. Quando você chegou na escola, já existia o curso adolescente?

Dressler - Não existia o curso adolescente. Certo? Que foi criado pela professora Sônia Azevedo. Hoje a professora não está presente. Ela era coordenadora de teatro e professora de expressão corporal, daí a Sônia pediu para sair, pra entrar em um lugar que era um dia por semana. Eu não lembro se era das três às cinco ou das duas às cinco, acho que era das três às cinco, é o que me parece.

Você lembra quando que era?

Dressler - Ãh?

Você lembra quando que foi?

Dressler - Eu não lembro não, eu só tinha vinte e seis anos.

É, faz tempo.

Dressler - Então tem coisa que eu não lembro mais.

Mas era curso de uma idade específica, esse adolescente?

Dressler - Como?

Esse curso adolescente era de uma idade específica?

Dressler - Sim.

Era de quantos anos?

Dressler - No inicio era um ano nas escolas, mas na época a diretora veio falar comigo se poderia passar pra dois anos o curso do adolescente. Daí então o curso passou a ter dois anos.

E com qual idade entrava no adolescente?

Dressler - Catorze, quinze anos. Por aí – quatorze, quinze anos.

E como é que ficou o curso de dois anos? Ele tinha uma continuidade?

Dressler - Tinha, Tinha sim. O único professor era eu.

Só você que dava aula?

Dressler - Só eu que dava aula, né? Mas eu dava aula pra eles da matéria que se tem à noite, de tudo, tinha um pouco de interpretação, teatro brasileiro, teatro estrangeiro, expressão corporal Não essa expressão corporal de deitar a cabeça e tudo mais, mas assim, andar no palco, fechar uma porta, abrir, as meninas a andar de salto alto, que elas não sabiam. Tudo isso.

E era uma vez por semana?

Dressler - Era uma vez por semana. A gente fazia cenas de teatro brasileiro e cenas de teatro estrangeiro.

E as turmas eram pequenas?

Dressler - Não. As turmas sempre eram grandes.

Mas o curso tem ate hoje né?

Dressler - Tem até hoje.

Mas ainda tem esse negocio de curso de dois anos?

Dressler - Tem. Depois que eu me aposentei, eu passei pros professores, porque ficava muito puxado pra mim. Porque, além do curso do adolescente, eu também dirigia à noite e dava aula de dia, aula de voz à noite, então eu trabalhava de segunda e, praticamente, até domingo.

Mas quando você parou de dar aula pra adolescente?

Dressler - Faz um bom tempo. E tem uma coisa também, no segundo ano eu montava um espetáculo adolescente, montava um espetáculo e ficava como um curso prático. Então, no segundo ano eles apresentavam esse espetáculo pra creches, pra favelas. Até que entrou uma professora aqui e quando ela veio falar comigo... Geralmente o espetáculo conta de antes do rei antes de cristo.

Do adolescente?

Dressler - Do adolescente. ”Morte e vida Severina”, “Caverna da alva”, o pessoal adorava vir assistir o espetáculo do adolescente no final. Então, a Maribel criou a sessão magia, sessão...
Alguma coisa assim, então eles convidavam as escolas pra vir assistir o espetáculo do adolescente, então eles apresentavam o espetáculo. Depois que a escola saía, continuava tendo aula comigo.

Apresentava e continuava tendo aula?

Dressler - Continuava tendo aula. Eu fiz muita coisa com eles, “Branca de neve”, “Circo de bonecos”, “Édipo rei”, “Caverna da alva”, “As troianas”. Muita coisa mesmo.

Era uma turma só por ano?

Dressler - Sim.

Não tinha turma que ficava uma turma por semana? Turma diferente?

Dressler - Não, comigo não.

E, Dresler, você já tinha dado aula pra adolescente antes?

Dressler - Não.

E tinha alguma diferença?

Dressler - Eu achava ótimo. Porque o adolescente ele é mais aberto, mais criança. Eu adorava, era maravilhoso estar aqui na escola e eles correspondiam. Pra fazer teatro brasileiro, eles entrevistavam atores famosos.

Eles faziam aqui uma vez por semana, mas continuava estudando, né?

Dressler - Eles iam entrevistar... E também teatro grego. Eles saíram daqui conhecendo todas as tragédias gregas. E eu usava com eles, por exemplo, pegava personagens famosos da tragédia gregas: o Édipo, o Otto, a Helena, e eles faziam julgamentos desses personagens. Tinha o advogado de defesa, tinha o júri, tinha a testemunha, era uma sessão de julgamento.

Então tinha bastante de teatro, de obra, né?

Dressler - Tinha. Porque eles eram obrigados a ler tudo, né?

E você lembra se eles chegavam a fazer o profissionalizante depois?

Dressler - Muitos. Muitos.

Aqui mesmo ou fora?

Dressler - Aqui. Foram bons alunos da noite, né? Claro, eles tinham mais preparo e tal.

Você lembra alguém, assim? É tanto aluno, né?

Dressler - Tinha o Valtini Garcia, não sei se você conhece, tem um menino hoje que da aula, como é o nome dele? Hoje ele é professor aqui.

No Viva Arte?

Dressler - É

Ele da aula aqui, no Viva Arte?

Dressler - É, eu sei que ele ta dando aula aqui, não no profissionalizante, mas eu sempre o vejo por aqui.

Você teve algum fato curioso com essas turmas?

Dressler - Tive sim. Fato curioso e maravilhoso. Eu fiz uma adaptação das “Troianas” e eles pediram pra levar pro festival, aí eu falei: não vou proibir. Pode levar, né? E eles ganharam todos os prêmios.

Qual festival que foi?

Dressler - Foi um festival aqui de São Caetano, no Santos Dumont. Tinham vários grupos.

Mas eram grupos adolescentes também?

Dressler - Não. Eles concorreram e ganharam tudo, melhor atriz, melhor ator. Não, ator não ganhou... Melhor diretor, melhor figurino, enfim, o Pedro Alcântara fez a eliminação, ele era um eliminador.

Foi qual peça essa?

Dressler - “Troiana”.

Bacana, Mais alguma coisa assim?

Dressler - Muitas coisas marcaram, né? E ver o resultado, né? As pessoas à noite, elas vinham assistir, era à noite o espetáculo adolescente. O “Édipo rei” era um espetáculo muito bom.

Que legal Dresler. E você continua dando aula de voz?

Dressler - Só de voz.

Seu único trabalho é aqui?

Dressler - É, tem que descansar, né?

E você ta fazendo mais alguma coisa?

Dressler - Às vezes aparece algum aluno em particular, alguma aluna. Aí eu do aula em casa. Mas assim, eu moro em São Paulo, eu não sou mais jovem, né? Eu já tenho uma certa idade, então pra mim pegar ônibus, metro, trem, é puxado.

Mais alguma direção, alguma coisa?

Dressler - Não, só aqui, aqui e aulas particulares quando me procuram.

Que legal Dresler, ta precisando descansar bastante, mas o que você faz?

Dressler - Ai, eu faço tanta coisa. Eu leio muito. Eu sou cinéfilo, assisto muito cinema. Eu tenho coleção de filmes nacionais, mais de dois mil. Saio, vou assistir às peças de teatro.

Mas você continua vindo no da fundação?

Dressler - Claro, já mandei guardar dois convites: um pra mim, um para o Paulinho.

Pra assistir “Arritmia”?

Dressler - É.

Bacana, tem – sei lá – alguma saudade?

Dressler - É eu tenho saudade, mas eu estou sempre aqui, assisto todos aos espetáculos, não me afastei totalmente.

Qual o melhor dos últimos filmes que você viu então, já que você é cinéfilo?

Dressler - Já assisti mais do que os filmes que eu coleciono. Gosto muito de cinema.

Qual que foi o último filme? Você tem algum melhor filme? Deve ser difícil pra você escolher qual o melhor filme.

Dressler - É difícil.

E qual filme você acha importante pra atores?

Dressler - Por exemplo, um filme importantíssimo, é o “Crepúsculo dos Deuses”. É sobre uma crise de decadência em Hollywood, com a Gloria Swanson. A “Malvada” também.

Mais algum?

Dressler - Tem “Dez mandamentos”, nacionais, né? “O Pagador de Promessas”, ator não pode deixar de assistir “O Pagador de Promessas”, enfim, todos os filmes da Vera Cruz eram muito bons, todos, “Sinhá Moça”, “Ângela”. Então, me fazem voltar ao passado, né?

Só uma dúvida mais. Assim, mais curiosidade: você que acompanha há tanto tempo a formação de atores, você acha que mudou muita coisa? Não no mercado que a gente sabe que mudou, mas, nos atores em geral assim, você vê alguma mudança de comportamento? Como eles eram, como eles são hoje.

Dressler - Mudou alguma coisa sim. Eu acho que antes, eles queriam fazer só teatro, o que eu acho uma bobagem, eu acho que o ator tem que fazer teatro, cinema, televisão, o que aparecer tem que fazer, mas na época era só teatro não faziam televisão, e hoje em dia, os alunos, eles estão pensando em fazer a novela das oito, não estão errados nisso, sabe? Não deixa de ser arte, quando é bom faz novela bem feito, faz teatro, faz dublagem, tenho muitos alunos fazendo dublagem aí.

Mas você acredita que existe uma formação que possa ser de ator, orientada só pra TV?

Dressler - Olha, eu acho que tem em São Paulo, sim.

Não, você acredita que dá pra formar um bom ator assim? Sem a referência do palco?

Dressler - Dá, você vê, por exemplo, a Gloria Pires, você conhece a Gloria Pires, né? Excelente atriz. E ela nunca pisou em um palco na vida, e outras mais, né? E é uma ótima atriz de televisão, de cinema, e se fizer teatro vai fazer muito bem também. O ator de teatro tem uma boa formação, tem vários caminhos depois, né? Pode ser um ótimo dublador, pode trabalhar em rádio, pode trabalhar em televisão, cinema, né? Que ganha pouco é outra coisa, agora só pra televisão...

Acho que é uma adaptação mais difícil, né?

Dressler - Mais difícil. Mais difícil. Nem todo mundo é a Gloria Pires.

Nem todo mundo é o Dresler também. E Dresler, que peça de teatro, você como ator, gostou muito de ter feito? Qual foi a última que você fez?

Dressler - Olha, a última... Teve Agatha Christie. Tem uma peça dela que foi apresentada no mundo todo, ficou anos e anos em Londres, a “Ratoeira”. Agora tem muitas coisas que eu gostei muito de ter feito, foi “Morte e vida Severina” (sic). Que mais que eu fiz? Fiz do Samuel Beckett, eu fiz duas tragédias gregas, “Agamenon” e “Hipólito”.

entrevista realizada por: Rodrigo Sampaio

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