Um pequeno ensaio sobre Peter Brook e o Théâtre des Bouffes du Nord
por Sérgio de Azevedo
O pequeno teatro, fechado pelos inúmeros tapumes, ficava no subúrbio da grande capital. Há anos ele procurava um lugar especial.
Soubera dele por sussurros e murmúrios que vinham pelo vento. Foi para lá numa tarde qualquer.
Quando chegou, tudo parecia afastá-lo. Ele insistiu. Arrancou as madeiras mais baixas, se arrastou pelo pó ali acumulado havia anos.
Chegou ao pequeno palco. Ao erguer o corpo e depois os olhos nada viu... De repente tudo viu...
O que realmente viu não chegou aos olhos e sim aos ouvidos: aqui é o meu lugar.
Eram as vozes impregnadas naquelas paredes que lhe diziam isso. Tão intensas que poderiam, naquele momento, ser tocadas.
As vozes atravessavam seus olhos, seu corpo. Elas eram as próprias sensações que sentia.
Teve a certeza de que seu papel era dar vida àquelas vozes. E criar novas, as que se juntariam aos muitos séculos de estórias grudadas àquelas paredes intensas.
O suor escorria de seu rosto. Quando a primeira gota tocou o chão, ele já não sabia se era mesmo suor ou era uma lágrima.
O som dela tocando o chão – da lágrima ou do suor, não se sabe – foi sua primeira contribuição para aquele teatro que seria, dali em diante, sua nova morada.
Tempos depois, quando todas as madeiras haviam sido retiradas, quando o pó havia deixado o chão de histórias, o teatro foi reinaugurado.
As paredes eram as mesmas de séculos atrás.
Cobertas apenas por uma resina transparente, as muitas vozes ainda lançavam ao ar ecos de todas as vidas ali vividas.
Ele sorriu.
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