terça-feira, 26 de abril de 2011

Sobre a participação da Turma 45 na Mostra Experimentos 2011

Por Roberto Kroupa

Sobre a participação do exercício de pV da Turma 45, Não – A trajetória de um homem que só sabia dizer sim, na Mostra Experimentos 2011 do TUSP.

Não somos um grupo de teatro, não nos escolhemos para “trabalharmos” juntos, somos, simplesmente, uma turma de teatro da Fundação das Artes de São Caetano do Sul que se iniciou no segundo semestre de 2008 com vinte integrantes e concluirá sua trajetória no segundo semestre de 2011 com nove pessoas. Somos, ora um mosaico de disparidades tonais infinitas, ora uma massa homogênea capaz de exultar o mais sincero senso de coletividade e companheirismo. E é, justamente, essa segunda característica que é aguçada quando nos vemos diante da oportunidade de levar um de nossos exercícios para além dos portões da Fundação.

Outro espaço, outro público, outros ares e, diante de toda essa novidade, uma apreensão que traz, ao mesmo tempo, o medo do desconhecido e o desejo de levar o melhor de nós a quem quer que seja. Em todo caso, uma experiência empolgante e revitalizadora para a turma.


Oito e meia da manhã e lá estávamos nós, na porta da Fundação, carregando, com toda a indumentária da peça, o carro que nos levaria até o teatro Maria Antônia. Dentro de duas horas, lá estaríamos nós, prontos para preparar o novo espaço para nossa apresentação. No entanto, ao mesmo tempo em que vivíamos uma experiência nova e diferente, os funcionários do TUSP, responsáveis pela recepção e acompanhamento da atividade, viviam somente mais um dia comum em seu trabalho cotidiano. Logo, não podíamos esperar deles a mesma avidez e empolgação que nos preenchia. É claro que devíamos ter pensado nisso antes... No calor do evento, simplesmente ficamos “fulos da vida” com o atraso de mais de duas horas por parte do técnico que nos auxiliaria na preparação do espaço (sim, nós havíamos combinado com antecedência).

Apesar dos pesares, conseguimos driblar esse impasse “numa boa” e fomos adiantando outras coisas. Afinal de contas, mesmo o pior dos espíritos de porco, com suas falhas de comunicação e interferências burocrático-administrativas fora de hora, não é capaz de arrancar de um grupo de artistas (ou coisa que o valha) em plena tarde pré-apresentação, sua vontade de fazer um bom trabalho, a fim de levar o melhor para o público, pois esse sim é verdadeiramente relevante.

Após o almoço, fizemos os acertos mais técnicos, como iluminação e teste nos equipamentos de áudio e audiovisual. (Nesse momento, abro parênteses para agradecer o Rodrigo, a Ingrid e todo o pessoal da técnica, que colaboraram muito e, por conta disso, tornaram-se tão importantes quanto qualquer um de nós, no que diz respeito à realização do espetáculo. Valeu!).

Acertos técnicos e agradecimentos feitos, podemos partir para os ensaios. Foram dois ensaios gerais e um técnico, magistralmente orientados por Pedro Alcântara, nosso diretor. Já havíamos feito uma visita ao espaço e fotografado tudo, portanto, no que diz respeito à adequação da peça ao espaço, tínhamos adiantado um bocado nos ensaios realizados na Fundação. Mas, é claro que estar ali era diferente e muitas coisas foram readequadas naqueles ensaios, naquele novo espaço.

O último ensaio foi um “passadão” sem interrupções, completamente imprescindível e essencial para trazer ao grupo uma sensação de confiança e deixá-lo sem preocupações ou receios; relaxado e pronto para a efetiva apresentação ao público, pois este não admite (nem merece) erros ou insegurança. Quanto a isso, se faz imperativo exaltar o mérito do Pedro que, desde nosso primeiro encontro no pII, nunca nos deixou sem um ensaio geral antes da apresentação. Medalhas aos que merecem!

Fim do ensaio. Tínhamos uma hora para vestir os figurinos e maquiarmo-nos. Nesse momento, é preciso salientar o quanto é gostosa essa uma hora antes da apresentação, em que o grupo está com a energia lá em cima. Tenho certeza que qualquer um que já tenha passado por isso, entenderá o que estou dizendo.

“Dez minutos” – é a voz do Pedro nos avisando. Dirigimo-nos ao palco e lá “batemos pé” e fizemos o silencioso “grito de guerra” da turma. É hora do espetáculo. Em sua última apresentação conosco, o Brito (Fairchild) vai lá pra fora. Começamos a ouvir as orientações que Fairchild dá ao público, o frio na barriga é inevitável. Olhamo-nos e cada olhar diz: “vamos arrasar”, “eu confio em você” e, o mais importante, “MERDA!”. Dentro de alguns segundos estaremos em cena e as coisas passarão como num piscar de olhos. Começou! Música da primeira cena; segunda cena; terceira; quarta, quinta, sexta... última cena; black-out... apreensão de lá e de cá... aplausos, luz e reverências de agradecimento... fim do espetáculo. Se bom ou ruim e porque, isso fica a mercê de quem assistiu. O que posso garantir é que para nós a experiência fora muito importante e especial por vários motivos.

Mas ainda não acabou. Ainda falta tirar o figurino, a maquiagem, arrumar o espaço, guardar as coisas no carro, viajar de São Paulo para São Caetano, descarregar as coisas na Fundação e, aí sim, ir para casa, tomar um bom banho, jantar e, com a sensação de missão cumprida, colocar a cabeça no travesseiro e começar a relembrar os melhores e piores momentos até que o sono venha.

Somos estudantes de teatro. Ainda não somos profissionais. Saímos de casa por volta das oito horas da manhã e chegamos depois das onze da noite e, mesmo assim – acredito estar falando por todos – sentimo-nos realizados e, de alguma forma, recompensados.

Deixo agora um trecho da peça para que todos que presenciaram possam rememorar com alegria:

Fairchild – (...) atirei no primeiro: Bang! No segundo: Beng! E no terceiro: Bing! Bong! Bung! BÃOG (?)... (silêncio) Seis... (silêncio)

SEXTÃO SANGUINÁRIO!!!


Roberto Kroupa é aluno do curso profissionalizante de Teatro da Fundação das Artes e integra a turma 45. Quer ver seu texto aqui? Mande para teatrofascs@gmail.com.

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