quarta-feira, 4 de maio de 2011

Abajur de Angústia

por Felipe Jóia

Um homem sentado numa escrivaninha, iluminado pela luz de um abajur. Ele se perde em seus pensamentos ao mesmo tempo em que aquela luz oscila em seu rosto. Seu rosto tem uma expressão de angústia e seus olhos estão fixos naquela luz como se estivesse hipnotizado. Suas mãos estão postas uma sob a outra tentando disfarçar aquela inquietação.

Seus pensamentos estão longe, perdidos em algum lugar daquele luz branca amarelada que sai pela cúpula do abajur. Uma piscada profunda corta a luz que entra nos seus olhos e ele percebe que quando deixa de olhar para a luz, sua angustia se esvai.

Durante alguns segundos, o homem, que até então estava com o olhar perdido, fica com seus olhos fechados. Durante este tempo, sente uma calma por dentro, uma calma profunda que toma todo seu corpo. Mas é difícil não olhar para aquela bela luz. Algo o chama, o faz ter vontade de olhar.

Imediatamente seus olhos se abrem e ao mesmo tempo em que aquela luz entra novamente em seus olhos, preenchendo seu corpo com, a priori, uma angústia sem tamanho, o homem é tomado por uma sensação tão boa, tão agradável que por um instante esquece-se daquela angustia e sente vontade de correr pelas ruas escuras da cidade iluminada. Correr sem rumo e sentir o vento fresco da noite bater em seu rosto.

Todos os dias aquele homem espera incessantemente o dia acabar, espera cair a noite, para ver aquela luz novamente.


Felipe Jóia foi aluno do curso profissionalizante e se formou em 2009 com a turma 41. Está em cartaz como ator convidado do espetáculo Arritmia e é artista-orientador do Programa Viva Arte Viva. Quer ver seu texto aqui? Mande para teatrofascs@gmail.com.

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