terça-feira, 21 de junho de 2011

“O Último Carro” e a Turma 46

Por Carolina Ferraresi


Às vésperas de nossa estreia do Quinto Período na Fundação das Artes, nós, da Turma 46, deparamo- nos com a realidade e o impacto daquele texto em nossas próprias vidas. O texto, escrito por João das Neves na década de 70, é uma metáfora sobre o Brasil como um trem desgovernado. Além disso, retrata a realidade do país e seus tipos mais comuns: o operário, a prostituta, mendigos e trabalhadores, idosos e jovens, que se encontram em um mesmo e único lugar: o trem.

E qual a importância deste texto ainda hoje? Bem, durante nossos laboratórios, que realizamos durante o Semestre, e enquanto gravávamos os depoimentos e entrevistas nas estações, éramos levados a reconhecer os personagens daquele trem. A senhora que nos contou sobre sua vida, e a sofrida vida de sua filha enquanto dependia do transporte e acordava às cinco da manhã; o trabalhador que não tinha outra opção a não ser o trem; o grupo de jovens que usa o trem para ir para o trabalho, e aos finais de semana, para lazer; a mãe que utilizava o trem com seu filho; dentre outros, que eram exatamente o universo de que fala João das Neves.

No mês de junho, na fase final de nosso trabalho, tivemos de enfrentar mais um contratempo por conta do transporte público, e que nos levou de volta novamente ao “O Último Carro”: a greve que atingiu o ABC e a cidade de São Paulo, nos trens, metrôs e ônibus. A maioria de nossa turma depende desse serviço básico e todos foram afetados pela greve. Semanas mais tarde, um acidente entre um ônibus, que despencou de um viaduto em São Caetano do Sul, e colidiu com o trem que passava logo embaixo, novamente nos jogava na cara tudo aquilo de que fala o texto: estamos todos dentro de um trem, que descarrila em direção à morte.

Respondendo à pergunta feita anteriormente, e tendo em vista todos esses fatos acontecidos recentemente, podemos dizer que, sim, o texto é ainda muito atual. Todos nos identificamos com seus personagens e suas vidas. Estamos todos dentro deste mesmo trem. Alguns assumem o controle da situação, outros se deixam levar. Mas temos uma coisa em comum: seu destino final. Saber o que fazer durante seu trajeto é o que nos difere, e apenas isto.



Carolina Ferraresi é aluna do curso profissionalizante de Teatro da Fundação das Artes e integra a turma 46. Quer ver seu texto aqui? Mande para teatrofascs@gmail.com.



"O Último Carro"  estréia neste final de semana e terá  cinco apresentações. Confira as datas:
25/06 (sábado), às 20h30
26/06 (domingo), às 20h30
27/06 (segunda-feira), às 20h30
02/07 (sábado), às 20h30
03/07(domingo), às 20h30.

5 comentários:

  1. Ótimo texto. Estarei lá com certeza!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Nós, de teatro, precisamos definitivamente colocar a cara para fora da janela e ver a real paisagem que se estabelece lá fora e hoje. É necessário conhecer e reconhecer-se enquanto ser e cidadão. Imenso orgulho de participar desse processo em nossos encontros na aula de voz. MERDA!!!!

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  4. Obrigada, gente!!! Celso, nós é que temos orgulho de termos você como professor!!! MERDA!!!!

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  5. João das Neves mais do que deixar sua marca nesse texto tão brilhantemente escrito, exprimiu com extrema sensibilidade e ousadia o que hoje tratamos, algumas vezes, com tom de banalidade: nos tornamos ainda mais iguais a medida em que nos esforçamos para sermos diferentes.
    Que bom que a Turma 46 conseguiu captar a essência e vivenciar o que está além das aparências.

    Muito sucesso nesse projeto, Ferraresi!

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