segunda-feira, 4 de julho de 2011

A Crueldade

Por Danielle Spina

O homem nunca pode parar de sonhar. O sonho é o alimento da alma...

Muitas vezes, em nossa existência, vemos nossos sonhos desfeitos e nossos desejos frustados, mas é preciso continuar sonhando, senão nossa alma morre...

O bom combate é aquele que é travado em nome dos nossos sonhos. Quando eles explodem em nós é com todo vigor - na juventude - nós temos muita coragem, mas ainda não aprendemos a lutar. Depois de muito esforço terminamos aprendendo a lutar, e então, já não temos a mesma coragem para combater.

Por causa disso, nos voltamos contra nós mesmos, e passamos a ser nosso pior inimigo. Dizemos que nossos sonhos eram infantis, difíceis de realizar ou fruto de nosso desconhecimento das realidades da vida.Matamos nossos sonhos porque temos medo de combater o bom combate.

O primeiro sintoma de que estamos matando nossos sonhos é a falta de tempo. As pessoas que nada faziam, estavam sempre cansadas, não davam conta do pouco trabalho que deveria realizar, e se queixam constantemente que o dia é curto demais

O segundo sintoma da morte de nossos sonhos são nossas certezas, porque não queremos olhar a vida como uma grande aventura a ser vivida, passamos a nos julgar sábios, justos e corretos no pouco tempo de nossa existência.

E finalmente, o terceiro sintoma da morte de nossos sonhos é a PAZ. A vida passa a ser uma tarde de domingo, sem nos perder em grandes coisas e sem exigir mais do que queremos dar. Achamos que estamos maduros, deixamos de lado as fantasias da infância e conseguimos realização pessoal e profissional.

Quando renunciamos aos nossos sonhos e encontramos a paz, temos um pequeno período de tranquilidade.

Mas os sonhos mortos começam a apodrecer dentro de nós, e infestar todo o ambiente em que vivemos, começamos a nos tornar cruéis com aqueles que nos cercam e finalmente passamos a dirigir esta crueldade contra nós mesmos. Surgem as doenças e as psicoses . O queríamos evitar no combate - a decepção e a derrota - passa a ser o único legado de nossa covardia.

E um belo dia, os sonhos mortos e apodrecidos tornam o ar difícil de respirar e passamos a desejar a morte, a morte que nos liberte de nossas certezas, de nossas ocupações e principalmente daquela terrível paz da tarde de domingo.


Danielle Spina é aluna do curso profissionalizante de Teatro da Fundação das Artes e integra a turma 46. Quer ver seu texto aqui? Mande para teatrofascs@gmail.com.


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